Simonton, a “Imprensa Evangélica” e seus nobres ideais – Parte 4

A Imprensa com propósito

Uma  semana antes da Imprensa  ser publicada, Simonton fez circular  uma  carta  falando do futuro lançamento e de seus objetivos.[1]

O fim que tem em vista a redação da Imprensa Evangélica, pode ser explicado em bem poucas palavras.

De comum com a maior parte dos que têm refletido sobre a situação do país, estamos convencidos de que a primeira necessidade do presente é o desenvolvimento intelectual e moral de todas as classes do povo e é nossa também convicção geral de que toda a esperança de sólido progresso e de estabilidade só pode firmar-se na difusão geral de verdadeiros princípios morais e religiosos.

Segundo a opinião mais em voga, todo o remédio está na intervenção dos poderes do estado e todo o dever do indivíduo se limita a reclamar essa intervenção.

Aqui divergimos.

Cremos que é indispensável o concurso de todas as inteligências, e que qualquer esforço sincero para difundir uma instrução verdadeiramente moral e religiosa, é digno de louvor.

A existência da Imprensa Evangélica é o resultado desta convicção, e ela se dedicará à explicação e disseminação dos preceitos e doutrinas do Evangelho, – única fonte quer dar moral, quer da religião, – único código que, bem entendido e fielmente observado, pode promover e assegurar a felicidade individual e social de qualquer povo.[2] (Grifos meus).

A linha editorial da Imprensa torna-se evidente já no primeiro número: por meio da pregação do Evangelho, tendo como base inicial a família, contribuir para curar o mal existente no Brasil:

No meio do caos de ideias religiosas, que divide atualmente os homens, inútil fora descobrir-lhes as fontes donde borbulha o mal, se para curá-lo lhes não aplicássemos meios. A propagação do Evangelho, pela vivificação da devoção doméstica, pelo órgão de uma folha, particularmente a isso consagrada, eis de nossa parte a aplicação dos meios.[3]

A isso o jornal se destina: “Se de nossos esforços não conseguirmos vingar senão o mínimo do nosso desígnio, ainda assim nos lisonjearemos jubilosos, por havermos cumprido com o nosso dever. Tal é a única missão da Imprensa Evangélica.[4]

Mais abaixo reafirma o seu objetivo religioso e, ao mesmo tempo a sua disposição em apresentar um periódico atual e que se moldará conforme o avanço da incipiente Igreja:

Com o progresso de nossa Igreja, iremos dando à nossa folha o desenvolvimento que lhe convém, por publicações variadas, que sem se afastarem de seu principal objetivo, lhe procurarão o atrativo da novidade nas formas.

Este trabalho, não tendo em vistas senão os interesses exclusivamente religiosos da sociedade em geral, como particular do indivíduo, estranho à toda e qualquer ingerência em política, a todos é consagrado; porém com muita particularidade o dedicamos àqueles para quem a religião de Jesus Cristo ainda não se tornou cousa indiferente, e, no meio da perversão universal e seus princípios divinos, não trairão ainda o dom mais precioso de Deus – a liberdade de consciência perante o Evangelho.[5]

No relatório apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro, Simonton diz que a Imprensa, objetivava “levar o conhecimento de Cristo a muitos que não consentissem em frequentar o culto público”.[6] De fato, Ribeiro (1919-2013) registra que “em Ubatuba, a igreja nasceu em torno dela [Imprensa], e como resultado de sua leitura antes que ali chegassem pregadores”.[7]

Simonton se entusiasmou com o jornal escrevendo sistematicamente dando notícias da sua penetração inclusive em meios não Protestantes: No dia 9 de maio de 1865, escreve à Junta Missionária dizendo que indo a Santos, visitou dois assinantes da Imprensa e a quem fora enviado um de seus sermões recentemente publicado.

Esclarece que uma dessas pessoas é um americano casado em Lisboa, cujo sogro é marechal do Exército brasileiro, tendo um tio almirante na Marinha e dois outros ministros do exterior. Essa pessoa, disse que o seu sermão estava circulando pela família inteira e sendo lido com grande interesse. “Ele quer que eu publique outro e oferece cinquenta mil-réis para a despesa”.

O outro assinante que visitou, lhe disse que a cópia de seu sermão está circulando entre outras pessoas, tendo causado uma revolução nos conceitos que tinham a respeito dos protestantes.

Simonton fornece outras informações: Um sacerdote do interior subscreveu o jornal e também um advogado do Rio (Carta de 04/5/1865); a mãe de Saldanha Marinho (1816-1895) lia a Imprensa. Um padre, filho do Regente Feijó procurou a Schneider para fazer a sua subscrição (Carta de 08/08/1865). Em 24 de janeiro de 1867 escreve que “muito poucos subscritores recusaram renovar suas subscrições. Padres em altas posições têm confessado que a Imprensa é uma defensora da verdade”.[8]

No seu relatório ao Presbitério do Rio de Janeiro (1867), mesmo informando que não lhe era possível dar detalhes minuciosos de todas as suas atividades, destaca a Imprensa:

Outro trabalho que me tem roubado muito tempo é a publicação da Imprensa Evangélica. A importância de uma folha evangélica não pode ser contestada. Por este meio muitos se instruem, que não estão ao alcance dos [demais]*** meios atualmente empregados para a propagação do Evangelho.[9]

A tiragem da Imprensa  aumentava conforme relata Simonton: “Com raras exceções os assinantes do ano passado [1866] continuaram e que tem aparecido um número considerável de nossos assinantes, quase todos estes da Corte”.[10]

 

Algumas diretrizes editoriais da Imprensa

Ainda que examinando apenas superficialmente os primeiros números da Imprensa, percebe-se de forma cristalina algumas de suas  diretrizes, as quais enumero:

1) Objetivo religioso, não político. No entanto isso não o impediu de dedicar editoriais ao assunto “A separação da Igreja e do Estado”, sustentando a autonomia da Igreja,[11] e vários números a respeito da “Questão da liberdade religiosa no Brasil”.[12]

2) O Cristianismo como a religião que prega o Evangelho de Cristo, sendo este Evangelho o único que pode satisfazer as necessidades do homem, estabelecendo uma relação incompreensível à mente humana: a justiça de Deus e a salvação dos homens, seres pecadores e indignos.[13] Sustenta que, “O Evangelho é a solução perfeita deste problema”.[14]

No segundo número, publica um artigo (sermão), intitulado: “Os Meios de Graça”, no qual enfatiza a necessidade da pregação do Evangelho – “o primeiro dos meios de salvação” –, apresentando Jesus Cristo como “Autor e agente da nossa salvação” e, que “pela fé o crente se abraça com o Salvador e assim torna-se participante do proveito da obra consumada na cruz e dos infinitos merecimentos do Redentor do mundo”.[15]

3) As Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática, não precisando nem podendo ser acrescida de mais nada.[16]

A ênfase na autoridade das Escrituras, apresenta: “Testemunhos de homens distintos sobre a excelência da Bíblia”[17] e uma obra que foi publicada em fascículo, escrita por Adolpho Monod,[18] intitulada, “Lúcia ou a Leitura da Bíblia”.[19]

4) A preocupação com o ensino religioso, intitulando uma série de artigos de  “Instrução e Culto Doméstico”.[20] Elaborou uma forma de Catecismo com perguntas e respostas, partindo sempre de um texto bíblico que lhe servira de base. Quando inicia tratando do “Pai Nosso”, revela logo em sua primeira pergunta, um dos princípios fundamentais da Reforma Protestante: O Sacerdócio Universal dos Crentes:

“ – Meu filho, o que é orar?

“ – É dizer a Deus tudo o que precisamos. Os meninos podem dirigir-se a Deus com a mesma confiança com que se dirigem a seus pais”.[21]

Na edição de 04/02/1865, deu-se início à publicação de um “Breve catecismo para meninos”, com uma nota de agradecimento:

Sumamente gratos à digna senhora que nos ofereceu esta tradução do inglês, nós chamamos a atenção dos senhores pais de família para estas doutrinas tão puras e salutares; e o fazemos com a melhor boa vontade, porquanto também nos lisonjeia a colaboração de tão eminente tradutora.[22]

5) A fé em Jesus Cristo como suficiente para nos apropriamos da salvação pela graça: Simonton faz uma síntese do livro de Romanos, “A Epístola de S. Paulo aos Romanos, analisada”.[23] Na sua exposição do capítulo 4 de Romanos, diz:

Prova-se que Abraão e Davi pelo seu exemplo e ensino testemunharam que a salvação é pela fé no sangue de Jesus, e por consequência gratuita. Esta referência ao pai dos crentes e a Davi tinha muita aplicação aos Judeus, pois provava que a fé de Paulo era de todos os tempos – era a fé católica.[24]

Conclui que a fé se revela em obras: “As doutrinas, que não se traduzem em obras de piedade e amor para com os nossos semelhantes, não podem ser divinas”.[25]

6) Ênfase na oração:  Começa o estudo da Oração do Pai Nosso:[26] “S. Paulo e a oração”.[27]O estímulo a orar pela conversão dos povos, seguindo a orientação do Concílio de Missionários realizado em Lodiana, na Índia Oriental, quando se estabeleceu a segunda quinzena de janeiro de 1860 “para o primeiro destes concertos universais de oração”. Simonton então convida seus leitores a fazer o mesmo orando até o dia 15 de janeiro de 1865.[28]

Na Imprensa  de 21/07/1866, dá-se início a um estudo traduzido do Sermão do Monte, intitulado: “Explicação do sermão de Jesus-Cristo no Monte”. Após a transcrição  das Bem-aventuranças (Mateus 5.1-12), há dezenas de perguntas baseadas apenas no texto bíblico. Na realidade, todos os Estudos  consistem em transcrição do texto bíblico acompanhada de perguntas e respostas.[29]

7) Em 1867, A Imprensa dá início a outro Catecismo, iniciando com uma nota explicativa que revela o desejo de considerar a Bíblia dentro de uma perspectiva histórica e teológica a fim de que as pessoas possam entender melhor o seu conteúdo:

A Bíblia  em grande parte é história, e o plano da nossa redenção atravessa longos séculos, começando a descobrir-se a Adão e Eva e alcançando o seu perfeito desenvolvimento com a descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste.

Se queremos compreender a Bíblia e torná-la compreensível aos outros, é mister darmos a devida importância à sua forma histórica. É necessário acompanhar passo a passo o desenvolvimento do plano de Deus em relação à nossa raça e comentar os fatos na ordem em que se sucedem.[30]

Esse  Catecismo seria publicado até a Imprensa  de 16/11/1867, com a promessa de continuar. No entanto, Simonton morreria semanas depois, o que me leva a crer que o referido trabalho era de sua autoria.[31]

8) A Imprensa revela também a sua conexão com o Cristianismo histórico, citando amiúde os Pais da Igreja, os Concílios e mesmo, transcrevendo o Credo Apostólico,[32] e o Credo Niceno  (325)[33] com os acréscimos de Constantinopla (381).[34]

A Imprensa  permaneceu  cumprindo bem os seus objetivos de “levar  o  conhecimento  de  Cristo  a  muitos”.

Na edição de 06/01/1866,  passou  a ser ilustrada com gravuras, conforme anunciara o número  de  23/12/1865. Além deste estímulo visual, o jornal trazia  um  estímulo  financeiro;  apesar da inflação,[35]  a sua assinatura anual teve o valor reduzido, passando de 6$000 para 4$000.

A Imprensa conquistou gradativamente novos assinantes. Aos poucos obteve uma gama variada de leitores, sendo assinada por homens simples, da capital e do interior, bem como por padres católicos, pessoas de alta posição e intelectuais; entre eles, o jovem cronista, Machado de Assis (1839-1908), que fez referência ao jornal quando discute a questão da liberdade religiosa.[36]

A Imprensa permaneceu até 02/07/1892, quando publicou o seu último número “por motivos de força maior”,[37] durando assim, quase 28 anos. A época, ao que  parece, ela já não atendia aos objetivos que nortearam a sua fundação.[38]

No entanto, ela se tornou um veículo importante na difusão do Evangelho, promoção do senso de unidade da igreja incipiente, alimento espiritual os fiéis que tanto careciam de pastores e ainda não existiam presbíteros, e propagação de uma ética resultante desta mensagem.[39]

 

 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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[1]Veja-se  a  transcrição desta circular, no editorial da Imprensa Evangélica, 21/10/1865, p. 1-2.

[2] Imprensa Evangélica, 21/10/1865, p. 1-2.

[3] Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 1.

[4] Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 1.

[5]Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 1.

[6] Relatório  de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 6. In: Coleção Carvalhosa – Relatórios Pastorais, 1866-1875 (fonte manuscrita).

[7]Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 101. Vejam-se outros exemplos, in: Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, São Paulo: O Semeador, 1987, p. 162.

[8] Todas as informações desses parágrafos foram extraídas de Philip S. Landes, Ashbel Green Simonton, Fort Worth, Texas: Don Cowan Company, 1956, p. 48-49.

[9]Relatório de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866. In: Coleção Carvalhosa – Relatórios Pastorais, 1866-1875, 12/07/1867. (Fonte manuscrita).

[10]Relatório  de Simonton apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro no dia 12/07/1867, p. 8. In: Coleção Carvalhosa – Relatórios Pastorais, 1866-1875 (fonte manuscrita).

[11]Editorial da Imprensa Evangélica, 03/02/1866, p. 17-18.

[12] Vejam-se:  Imprensa Evangélica, 05/05/1866; 19/05/1866; 02/06/1866; 16/06/1866; 07/07/1866 e a outros assuntos paralelos. Vejam-se: Imprensa Evangélica, 17/12/1864, p. 1-2 (A questão Kalley); 06/05/1865 (“O governo e o ensino religioso”), p. 1-3; 03/02/1866, p. 17-18 (“A separação da Igreja e do Estado”).

[13] Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 2.

[14] Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 2a. Ver também: Imprensa Evangélica, 03/08/1867, p. 113-114; 17/08/1867, p. 121-122 (“As bases de um reforma religiosa”).

[15] Imprensa Evangélica, 19/11/1864, p. 4-5.

[16] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 2b.

[17] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 2. Esses testemunhos continuaram aparecendo em outros números.

[18] Adolphe-Louis-Frédéric-Théodore Monod (1802-1856), foi um pastor protestante francês que estudou em Paris e Genebra e teve um profícuo ministério em Nápoles e Lyon. Foi também um grande pregador, considerado o mais importante pregador francês do século XIX. A ênfase de Monod na necessidade de os crentes crerem na autoridade da Escritura, é fortemente demonstrada em seu sermão sobre 2Tm 3.16, “A credulidade do incrédulo”, pregado possivelmente em Montauban no ano de 1841. (Disponível e: https://monodgraphies.eu/oeuvres/sermons/Monod_S_22_Credulite.pdf). (Consulta feita em 15.08.2024). Muitos outros sermões de Monod podem ser acessados em: https://books.google.fr/books?id=pQ5OAAAAcAAJ&printsec=frontcover&hl=fr&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. (Consulta feita em 18.08.2024).

[19] Imprensa Evangélica, 17/12/1864, p. 3-4.

[20] No final do segundo nº ele conclui com uma oração e com uma quadrinha que intitula “Oração para a Noite”: “Agora me deito para dormir/ Me guarda, ó Deus, em teu amor;/  E se eu morrer sem acordar/ Recebe minha alma, ó senhor.”  (Imprensa Evangélica, 19/11/1864, p. 8). Na Imprensa de 17/12/1864, terminado o estudo do Pai Nosso, continua as suas “Instruções”. Agora tratando dos “Dez Mandamentos”. Essas “Instruções” continuariam até o término do décimo Mandamento em  01/12/1866.

[21]Editorial da Imprensa Evangélica, 5/11/1864, p. 2b

[22] Imprensa Evangélica, 04/02/1865, p. 8. Este Catecismo foi publicado até edição de 06/5/1865 (o jornal saiu erradamente com a data de 1864), perfazendo um total de 203 perguntas. Não consegui identificar a origem do referido Catecismo; todavia sabemos que não é o Breve Catecismo de Westminster.

[23] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 6.

[24] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 7.

[25] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 8.

[26] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 2.

[27] Imprensa Evangélica, 05/11/1864, p. 5.

[28] Imprensa Evangélica, 17/12/1864, p. 2.

[29] Esta série foi concluída com o texto de Mateus 5.33-48 e as respectivas perguntas (Imprensa Evangélica, 15/11/1866, p. 191-192).

[30]Imprensa Evangélica, 16/02/1867, p. 27.

[31] Quando Simonton começa uma classe de Escola Dominical em sua casa (22/04/1860), sendo este o seu primeiro trabalho em português, os textos usados  com  as cinco crianças presentes (três americanas da família  Eubank  e duas alemãs da família Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo  de  História  Sagrada  e  o Progresso do Peregrino, de Bunyan (Diário 1852-1867, 28/04/1860). Estou convencido de que este Catecismo seja o mesmo que ele agora começou a publicar na Imprensa Evangélica, o fazendo apenas parcialmente (Edição de 16/02/1867 até 16/11/1867).

[32] Imprensa Evangélica,  04/05/1867, p. 72. O Credo dos Apóstolos tem a sua origem no Credo Romano Antigo, elaborado no segundo século, tendo algumas declarações doutrinárias acrescentadas no decorrer dos primeiros séculos, chegando à sua forma como temos hoje, por volta do sétimo século. Sabemos, portanto, que a sua origem não é apostólica. Contudo, a sua autoridade foi derivada de seu conteúdo fundamentalmente bíblico, não de sua suposta origem. Os Reformadores tiveram amplo apreço por ele, excetuando o grupo anabatista.

O Credo Apostólico era usado na preparação dos catecúmenos, professado durante o batismo, servindo também para a devoção privada dos cristãos. Posteriormente passou a ser recitado com a Oração do Senhor no culto público. No nono século ele foi sancionado pelo Imperador Carlos Magno para uso na Igreja e, o papa o incorporou à liturgia Romana.

A Reforma valorizou este Credo, sendo ele usado liturgicamente em muitas de nossas igrejas ainda na atualidade. Calvino (1509-1564) sumariza o seu pensamento a respeito do Credo demonstrando grande apreço por ele. (Veja-se: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (II.4), p. 35).

[33] O Credo Niceno primitivo, foi elaborado no Primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia (20/05/325), (atual cidade de Iznik, Turquia) na Bitínia no ano 325. Este Concílio teve uma representação significativa (especialmente das igrejas do Oriente): 300 ou 318 bispos; cerca de 1/6 de todos os bispos (estima-se a existência de 1800 bispos em toda a Igreja). O Concílio foi convocado e subvencionado pelo Imperador Constantino – quem presidiu a sessão inaugural, fazendo um discurso sobre o perigo da dissensão dentro da Igreja, tendo também, ampla participação no decorrer do Concílio – visando tratar da questão Ariana que prejudicava a união da Igreja e, consequentemente, do Império. O Concílio, depois de amplo debate, declarou a igualdade essencial entre o Pai e o Filho. Os ensinamentos de Ário foram condenados e ele, foi deportado para o Ilírico.

[34] Imprensa Evangélica,  15/06/1867, p. 96.      Posteriormente, o Concílio de Constantinopla (381), convocado pelo Imperador Teodósio I, – sendo presidido inicialmente por Melécio de Antioquia (310-381) –, constituído tradicionalmente por 150 bispos, ampliou o Credo Niceno, daí o nome de Credo Niceno-Constantinopolitano. Esse Credo “ampliado”, foi lido e aprovado no Concílio de Calcedônia (451).

[35]Cf. Laurence  Hallewell, O  Livro no Brasil: sua história, São Paulo: T.A. Queiroz, Editor; Editora  da Universidade de São Paulo, 1985, p. 97.

[36]Machado de Assis, Crônica de 22 de novembro de 1864, publicada no Diário do Rio de Janeiro. (Veja-se: Machado de Assis, Obras Completas de Machado de Assis, Rio de Janeiro: W.M. Jackson Inc., 1959, (Crônicas, v. 2), v. 23, p. 244). Machado de Assis continuou a discussão a respeito da questão religiosa na “Crônica” seguinte (29/11/1864), tratando da pregação do “Dr. Kelly”. (Provavelmente o nome de Kalley fosse então assim pronunciado).

[37]Imprensa Evangélica, 02.07.1892,  p, 215. À frente se desculpa por não pode concluir as séries publicadas: “Em vista da inesperada resolução de suspender a publicação da Imprensa, não nos foi possível providenciar a respeito de alguns artigos continuados, que ficam assim sem conclusão. São eles. A Ceia do Senhor, o Marinheiro, a Confissão e Reflexões Práticas. Desta última série ficou apenas o derradeiro artigo” (p. 216).  Lessa (1874-1939)  registra  algumas curiosidades e suspeita do que teria acontecido (Veja-se: Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de  São  Paulo, p. 397-398).

Vieira, (David  G.  Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão  Religiosa no Brasil, p. 147, 149), por um lapso, talvez de edição e/ou revisão, apresenta  equivocadamente, o período de 25 anos como  sendo  o de duração da Imprensa.

[38]Cf. Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, São Paulo: O Semeador, 1987, p. 183.

[39]Ribeiro analisa com precisão alguns dos benefícios trazidos pela Imprensa para o evangelho no Brasil. (Veja-se: Boanerges  Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 96-108).

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